Insónia
A culpa pesa no ombro,
Não deixa dormir.
Uma tentativa desesperada de parar o tempo,
Ou de impedir que continue, sem o perdão.
Tu já sabes como termina,
Escuta.
Perdoa,
Mesmo que doa.
Olho para a poltrona vazia e ouço uma voz.
O relógio marca a madrugada,
O calendário os treze anos que o tempo me esperou.
Progressivamente,
Aumenta o tom.
Relembra-me onde, o quê, o porquê.
Pergunta-me: até quando?
Durante a morosidade,
Fugi,
Evitei.
Acho que nunca quis saber responder.
Agora,
Os carneirinhos que conto
Já lhes perdi a conta.
Invadem os lençois,
Entram-me na mente,
Não consigo mais escapar.
Corro as escadas ofegante,
Num salto alcanço os ponteiros,
Tento encontrar forma de os parar.
Espero que me perdoe
Pela demora de a perdoar.
O tempo esteve à minha espera.
E agora sou eu quem está à espera de o ter.
Sento-me na poltrona,
Sinto uma mão pesar no ombro.
A mesma voz do último adeus:
"É uma longa história."
"Eu tenho tempo, Mãe."
