Labirinto-Espiral

"Sempre vivi com depressão, ansiedade e tendência a POC —
é-me muito fácil cair por uma espiral de perturbação alimentar.
Entre problemas familiares que dificultam tudo
e dias onde não havia esperança no horizonte,
aprendi, ao partir sozinha, que consigo fazer coisas difíceis
e que existem, ainda, coisas e pessoas bonitas
pelas quais vale a pena ficar."
— de um testemunho real
O pensamento estreita-se em espirais obsessivas.
Perco-me no labirinto deste vale —
sem saber se caminho em diante
ou se apenas o renuncio por crenças intrusivas.
Temo o avanço,
a sombra,
e o peso da solidão
quando o sol se despede de mim.
Sigo —
apressadamente, vagarosamente —
pelas curvas da dúvida:
como aqui cheguei?
quando sairei?
Um véu de névoa intermitente cerra o olhar.
Distorce-me a fome, a voz, a visão.
Aperta o peito,
escasseia o ar — no pulmão e no coração.
Lanço o medo além,
mas não o consigo desarmar:
piso silvas angustiantes
que guardam na pele espinhos herdados
da raiz familiar.
Fere. Arde. Tenho mesmo de escapar.
Mas como é suposto sair
do que ainda não consegui evitar?
Desnorteada em atalhos de fuga cruzados,
confundo esforço com destroço.
Até que, enfim, se revela um clarão:
erguendo-me ao cume,
de cima, olho o vale.
O escuro desvanece.
O labirinto deixa de o ser —
as espirais são somente uma semente
que a minha própria lágrima regou.
E dela, floresceram agora os campos
de rosas e emoções quentes
de cada "pessoa bonita" que me ajudou.
Com as mãos ainda trémulas de alívio,
colho uma, outra e outra.
Faço um ramo
e descanso-o na sepultura
do que antes me magoou.
— Sai de casa. Vai conhecer pessoas. E tudo vai ficar bem.
