Negro-Azul

"Tentei ser perfeita.
Cheguei ao meu limite e entrei numa depressão.
O meu namorado salvou-me completamente.
Pode ter-me feito mais forte —
mas não precisava ter sofrido para o ser."
— de um testemunho real
Naufraguei no sal
do suor penoso e da lágrima aflita.
Sal que seca a integridade das almas,
que se afundam na cadência da perfeição intangível
e dos aplausos sem fim.
Febril de querer ser inteira,
tento segurar-me em mim —
na vastidão do tempo que me escapava,
como areia dispersa em solo fértil,
poroso à inevitabilidade da vida,
permeável ao desejo da morte.
Um naufrágio vagaroso. Inevitável.
Exalto a minha sede num eco:
Cedo.
As gotas gélidas caem em mim antes de me tocarem.
Rasgam-me o peito,
percorrendo a face,
afogam-se naquele negro-azul
onde, com elas, me encontro perdida:
vazia e incompreendida.
Combato a ondulação natural da vida;
forço-me a ser tudo, com vontade de ser nada.
Vejo o meu próprio reflexo afundar —
confio-lhe a mão, mas ainda não o consigo alcançar.
Resisto em apneia,
no centro das forças contrárias que me puxavam:
para o fundo, pelo peso da audácia que me tornara;
para o topo, para aprender a flutuar
na demasia do que já havia aprendido a suportar.
Quando as brechas de claridade já dissuadiam a crença
de que haveria um depois,
num dia de luar,
derroto a luta —
e surge cheia:
move oceanos,
controla marés dentro de mim,
ensina-me a amar e ser amada,
a aceitar a luz sem questionar.
Afinal, mereço.
Ainda há destroços de mim,
submersos na harmonia do caos.
Mas já não me perco neles:
o passado é um fio transparente1
— que teimo em cortar.1
Porque, sem escolha,
puxou-me ao presente —
algures onde, no futuro, quero estar.
— Rodeia-te de pessoas que te inspirem todos os dias.
