Polegarzinho

De fundo,

os risos rebentam com as bolhas de sabão.


Números traçados no chão,

desenhos a giz,

saltos e pliés.


Mostras que alcanças os pés com as mãos.

Tentas caber nos sapatos de trabalho da mãe.

— "É alto cá de cima!"

Manténs o equilíbrio…

Ups, quase cais.


Cheira a flores,

mãos sujas de terra,

e torradinhas com manteiga

à tua espera - antes que esfriem

e te atrases.


Pegas no teu ursinho de peluche

e sentas-no à mesa, bem juntinho de ti.

Dás-lhe a provar meia caneca de leite fingido

e a primeira trinca da torrada:

Bem… é o teu pedido de desculpa

por tê-lo posto às voltas na máquina de lavar,

e de cabeça para baixo no estendal.

— "Não foi com a minha autorização!"

Uhm... que bom.


Trepas armários,

finges ser o Tarzan.

Chegas à prateleira dos chocolates.

Tiras um, ou dois...

O terceiro vai no bolso,

para o lanche da manhã.

Amassas o papel:

— "O que são estas palavras todas escritas aqui?

Já distingo o A, E, I, O, U!"


Pedes à mamã para te fazer umas tranças,

como as da menina dos desenhos na TV.

— "Que linda que estou!

Quero tanto que as minhas amigas me vejam assim…"


Saio de casa,

mochila a tocar o chão.

Aceno-lhe.


Estendo uma mão delicada,

com a outra, amparo para que não caia.

Seguro nela,

e guardo-a no bolso da bata

do jardim de infância perdida.


Os meus olhos enchem-se de lágrimas:

— Bem-vinda a casa, Polegarzinho.
Gostaste da visita?

Viste tudo? Sentiste tudo?

Foi ao meu coração que te levei.

Ele ainda te guarda.


Regressa em breve.

Promete.

Tive saudades tuas.